Sempre que converso sobre o fato de ser fundador de um blog de vinhos, tenho eventualmente que responder perguntas como “Então você bebe todo dia?”, “Quantas garrafas de vinho você consegue beber por dia?”, “Então você vive bêbado, não é?”. Apreciar, estudar e degustar vinhos não é sinônimo de embriagar-me diariamente. Após contar até dez, coloco um sorriso no rosto e aproveito a oportunidade para evangelizar sobre taxa de álcool no sangue e o consumo responsável de vinhos.

Taxa de álcool no sangue
A taxa mede a quantidade de álcool no sangue, em miligramas de álcool por mililitro de sangue. A quantidade de álcool absorvida pelo sangue está diretamente relacionada com a quantidade de álcool que nosso corpo pode metabolizar: cerca de 10 g por hora, o que representa uma taça de vinho. A taxa é comumente utilizada para definir limites legais permitidos de álcool no sangue para quem dirige veículos. No Brasil, vivemos tempos de Lei Seca, onde o limite de álcool no sangue beira zero, mas mundo afora esta taxa varia entre 0,5 mg/ml e 0,8 mg/ml.
Qual é o limite seguro para o consumo de vinhos?
A resposta invariavelmente é depende. Depende de quem, em que condições e quão rápido se consome:
- Sexo: a capacidade de metabolização (quebra) do álcool no estômago nas mulheres é menor do que nos homens. Além disso, a composição do corpo masculino também ajuda. Homens possuem uma proporção de água no corpo maior do que as mulheres, o que favorece a distribuição do álcool pelo corpo. Portanto, se ambos ingerirem a mesma quantidade de álcool, a taxa final de álcool no sangue será maior na mulher do que no homem.
- Idade: com o passar dos anos, a capacidade de produção das enzimas que metabolizam o álcool diminui. Portanto, uma pessoa mais velha irá possuir maior taxa de álcool no sangue do que uma pessoa mais jovem após consumir a mesma quantidade de álcool.
- Alimentação: não é só pela harmonização que o vinho combina com comida. O consumo de álcool durante refeições favorece uma menor taxa de álcool no sangue pois, durante a alimentação, principalmente de proteínas e comidas com gordura, o estômago diminui a velocidade com que entrega o alimento ao intestino, o que favorece com que o álcool fique mais tempo no estômago e seja metabolizado por mais tempo.
- Frequência: pessoas que consomem álcool com frequência de fato adquirem a capacidade de metabolizar maior quantidade de álcool. Isso ocorre pois o fígado é capaz de produzir mais enzimas metabolizantes com o hábito do consumo de álcool.
- Velocidade: o corpo necessita de tempo para metabolizar o álcool, portanto, a ingestão rápida eleva a quantidade de álcool que chega até o intestino, onde será absorvido pelo sangue em maior quantidade.
A tabela abaixo compara a taxa de álcool no sangue de uma mulher de 60 kg e um homem de 80 kg, após consumirem duas taças de vinho ao longo de um período de 90 minutos.

Uma conclusão interessante: apesar da graduação ter crescido apenas 25% (de 12% para 15%), a taxa de álcool no sangue cresce 33% para as mulheres e 43% para os homens. Esse crescimento desproporcional mostra a sobrecarga do corpo na metabolização do álcool. Após certo nível de ingestão, cada vez menos álcool é metabolizado e mais é absorvido pelo sangue.
Consumo responsável
Infelizmente não há atalhos para o consumo saudável e responsável de vinhos. Tomar litros de água, café forte, banho gelado e vento no rosto podem até fazê-lo se sentir melhor, mas não alteram a taxa de álcool no sangue. Uma boa medida para orientar a quantidade de vinho que pode ser consumida de forma responsável é fornecida pela Organização Mundial da Saúde: 7 unidades de álcool por semana para mulheres e 14 unidades por semana para homens, onde o número de unidades de álcool é alcançado multiplicando-se o volume de vinho (em litros) pela graduação alcoólica. Alguns exemplos:
- Uma taça de 150 ml de vinho com gradução 14% = 0,15 x 14 = 2,1 unidades
- Uma garrafa de 750 ml de vinho com gradução 12% = 0,75 x 12 = 9 unidades
Referências: Vinhos e Espirituosos, Wine & Spirit Education Trust, WSET2; Revista Decanter Vol. 41 n° 5, Fevereiro 2016; Artigo “O que é o beber moderado? Definindo dose e níveis de consumo”, Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein (SBIBHAE).
